MNE chinês critica venda de armas dos EUA a Taiwan no segundo dia de exercícios
O ministro dos Negócios Estrangeiros da China criticou hoje a venda recorde de armamento dos Estados Unidos a Taiwan, no segundo dia de exercícios militares chinesas em torno da ilha.
Wang Yi, o mais alto responsável chinês a comentar até agora o novo pacote militar, condenou também as "forças pró-independência em Taiwan" e criticou a liderança japonesa, durante um evento diplomático de fim de ano, em Pequim.
"Face às provocações contínuas das forças pró-independência de Taiwan e à venda de armamento em larga escala por parte dos EUA, devemos opor-nos com determinação e responder com firmeza", afirmou Wang, num balanço da política externa chinesa ao longo de 2025.
Wang reiterou o objetivo da China de alcançar a "reunificação completa" com Taiwan, ilha com governo autónomo desde 1949, mas cuja soberania é reclamada por Pequim.
O Governo de Taipé alega que Taiwan nunca fez parte da China comunista e que as pretensões de soberania chinesas são ilegítimas.
O pacote militar norte-americano, anunciado este mês pelo Departamento de Estado dos EUA, está avaliado em mais de 11 mil milhões de dólares (9,3 mil milhões de euros) e representa a maior venda de armamento norte-americana a Taiwan até à data. Inclui mísseis, veículos aéreos não tripulados (`drones`), sistemas de artilharia e `software` militar.
As leis norte-americanas obrigam Washington a fornecer a Taiwan meios para a sua defesa. O Presidente norte-americano, Donald Trump, intensificou a pressão para que Taipé aumente as compras de armamento aos EUA, chegando a sugerir que a ilha deveria gastar até 10% do seu Produto Interno Bruto na Defesa.
Em resposta à venda, a China lançou dois dias de exercícios militares em torno de Taiwan, a partir de segunda-feira. Os exercícios são também vistos como uma mensagem dirigida à nova primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, que, no mês passado, inflamou os ânimos em Pequim ao sugerir uma possível intervenção militar japonesa em caso de conflito no estreito de Taiwan.
"O Japão, que lançou a guerra de agressão contra a China, não só falha em refletir profundamente sobre os vários crimes cometidos, como os seus líderes atuais desafiam abertamente a soberania territorial da China, as conclusões históricas da Segunda Guerra Mundial e a ordem internacional do pós-guerra", disse Wang Yi, alertando que a China "deve manter-se altamente vigilante perante o ressurgimento do militarismo japonês".
No discurso de balanço anual da diplomacia chinesa, Wang abordou ainda a guerra na Faixa de Gaza, saudando os esforços internacionais para alcançar um cessar-fogo, mas afirmando que é preciso fazer mais.
"O mundo ainda deve justiça à Palestina", disse o chefe da diplomacia chinesa. "A questão palestiniana não pode voltar a ser marginalizada e a causa do povo palestiniano pelos seus direitos legítimos e democráticos não pode terminar em vão", frisou.
A China mantém boas relações com Israel e com a Autoridade Palestiniana e apoia a solução de dois Estados, sob a qual Israel e Palestina existiriam como Estados independentes.
Wang reafirmou também o objetivo de Pequim de facilitar um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia. Embora afirme manter uma posição imparcial, a China tem demonstrado apoio a Moscovo através de visitas de alto nível e exercícios militares conjuntos.
Esta semana, Wang também mediou conversações entre os chefes da diplomacia da Tailândia e do Camboja, que afirmaram que os encontros ajudaram a consolidar o cessar-fogo entre os dois vizinhos, após meses de confrontos fronteiriços.
As reuniões foram mais um exemplo da tentativa da China de reforçar o seu papel como mediador internacional e ampliar a sua influência em crises regionais na Ásia.
Ao consolidar-se como uma potência económica e política global, Pequim tem procurado há mais de uma década aumentar a sua influência diplomática como terceira parte em negociações multilaterais.